As Olimpíadas 2020 foram encerradas oficialmente neste domingo (8) em uma cerimônia marcada por um clima intimista, com as esperadas referências à cultura do país sede, como costumam ser os eventos desse tipo. Mas, assim como havia ocorrido na abertura, o estádio vazio evidenciava o que tornou esta uma edição especial dos Jogos muito antes de acender a pira olímpica: a pandemia.
O minimalismo é uma das características mais marcantes da cultura japonesa e era esperado na festa independentemente de qualquer momento histórico. Mas é inevitável a certeza de que tudo foi ainda mais discreto por causa do momento, muito distante, por exemplo, do que se viu no Rio de Janeiro, com muitas cores e música.
Sem público no Estádio Nacional, não houve qualquer tipo de manifestação, de aplausos efusivos a vaias solenes, que se destacasse. E o distanciamento preservado entre atletas, voluntários e autoridades, quase o tempo todo de máscara, trouxe à lembrança o padrão de comportamento que desenvolvemos em quase dois anos de pandemia: os protocolos sanitários à frente da execução de qualquer outro protocolo.
Não foi diferente do que se viu no tradicional ato de “recebimento” dos Jogos pela sede seguinte. Em vez de ocupar uma parte da cerimônia de encerramento com um teaser da próxima edição dos Jogos, a festa francesa foi transmitida por vídeo, remotamente. O que se viu de Paris, por outro lado, contrastava com tudo que acontecia na cerimônia de Tóquio.
Em frente à Torre Eiffel, atletas e torcedores franceses, muitos sem máscara, protagonizaram o único momento olímpico em que se observou a aglomeração de pessoas. No entanto, segundo a agência Reuters, era necessária a apresentação do certificado de vacinação ou de um teste negativo para a Covid-19 para entrar na área reservada ao público.
Foi assim que Tóquio se despediu das Olimpíadas em que o público não foi convidado para a festa. Agora é esperar que da próxima vez que as pessoas forem se aglomerar para um evento olímpico em Paris seja necessário apenas um ingresso para entrar.
A solenidade
A cerimônia no Estádio Nacional de Tóquio começou com um vídeo que revisava os momentos marcantes dos Jogos. Sem a presença do público, a exibição foi responsável por criar o clima necessário para o início oficial da solenidade, marcada pela entrada do príncipe Akishino e do presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas Bach.
Cumpridos os protocolos iniciais, era hora de tocar o hino nacional japonês e iniciar a tradicional entrada dos porta-bandeiras de cada país -- Rebeca Andrade, dona de um ouro e uma prata em Tóquio, representou o Brasil. As delegações vieram em seguida.
Diferentemente do evento que abre os Jogos, onde o desfile dos atletas segue um procedimento estabelecido, a aparição dos esportistas na festa de encerramento ocorre de maneira informal, sem distinção obrigatória entre os países. Em Tóquio, esse padrão se repetiu, mas com uma quantidade bem pequena de atletas.
A delegação brasileira, por exemplo, tinha seis pessoas: Rebeca Andrade, o treinador da ginástica artística Francisco Porath, o boxeador e campeão olímpico Hebert Conceição, a médica do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) Ana Carolina Corte, o sub-chefe da missão brasileira em Tóquio Sebástian Pereira, e Bira, identificado como o mais antigo colaborador do comitê brasileiro.
A sensação ao olhar para a festa era de um grupo ainda menor do que o que se viu na abertura, quando muitas delegações, por precaução, enviaram versões bem pequenas de suas delegações - na ocasião, o Brasil entrou com apenas três pessoas.
Mulheres ganham espaço na última premiação
Na esteira da busca do COI pela diminuição da disparidade entre os gêneros, a última entrega de medalhas teve uma mudança em relação ao protocolo das cerimônias anteriores. Elas tradicionalmente premiavam atletas homens - no caso, os três primeiros colocados da maratona, disputada no último dia das Olimpíadas.
Em Tóquio, as medalhistas da maratona feminina também foram incluídas. Primeiro, as quenianas Peres Jepchirchir, Brigid Kosgei e a norte-americana Molly Seidel subiram no pódio para receber, respectivamente, o ouro, a prata e o bronze; depois, foi a vez de Eliud Kipchoge, também do Quênia, Abdi Nageeye (Holanda) e Bashir Abdi (Bélgica), medalhistas na maratona masculina.
A vitória dupla do Quênia na prova, uma das mais tradicionais dos Jogos, fez com que o país africano tivesse seu hino executado duas vezes, na sequência.
Aglomeração em Paris
A segunda parte da cerimônia teve a tradicional passagem da bandeira olímpica do Japão, representado pela governadora de Tóquio, Koike Yuriko, à França, pelas mãos da prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Thomas Bach, presidente do COI, intermediou a entrega.
A execução da Marselhesa pela Orquestra Nacional da França, com imagens icônicas de Paris, incluindo a presença de uma musicista na cobertura do Stade de France, abriu o momento em que a capital francesa assumiu o protagonismo na festa.
Houve, então, o momento em que as imagens da cerimônia mostraram a Torre Eiffel, com uma grande quantidade de pessoas reunidas, e a mensagem “Merci Tokyo". Havia a expectativa sobre o hasteamento de uma bandeira gigante com o símbolo de Paris-2024 na torre, mas ela não se confirmou. Segundo os organizadores, o mau tempo na cidade francesa impediu o ato.
"Vocês nos inspiraram", diz Bach a atletas
A parte final da solenidade teve o tradicional discurso de Thomas Bach, que fez referências à pandemia na hora de agradecer aos atletas e organizadores pela realização dos Jogos. “Caros atletas, nos últimos 16 dias vocês nos surpreenderam com suas conquistas esportivas. Com sua excelência, com sua alegria, com suas lágrimas, vocês criaram a magia desses Jogos Olímpicos.”
"Vocês [atletas] nos inspiraram com o poder unificador do esporte. Isso foi ainda mais notável quando levamos em conta os muitos desafios que vocês enfrentaram por causa da pandemia"
Thomas Bach
O presidente do COI classificou os Jogos de Tóquio como as “Olimpíadas da esperança, solidariedade e paz” e, em seguida, agradeceu os organizadores. “Esses foram Jogos sem precedentes, e foi necessário um esforço sem precedentes para realizá-los”, destacou. “Ninguém jamais realizou Jogos que haviam sido adiados.”
Bach, então, declarou o encerramento das Olimpíadas. A pira olímpica se fechou, dando início a uma queima de fogos com a palavra “Arigato” em destaque.
Manifestantes se reúnem em protesto contra os Jogos
Antes da cerimônia de encerramento dos Jogos, dezenas de manifestantes se reuniram perto do Estádio Olímpico, com faixas dizendo “cancele as Olimpíadas” e “as Olimpíadas matam os pobres”. A polícia impediu que os manifestantes entrassem na estrada que leva ao estádio.
“As Paralimpíadas estão programadas para acontecer depois das Olimpíadas e nós somos contra isso, e contra as Olimpíadas programadas para Paris e Los Angeles”, disse Jun Ouenoki, uma das organizadoras do protesto, à CNN.
“As Olimpíadas estão custando vidas e meios de subsistência - devemos canalizar recursos para lidar com o agravamento da emergência da Covid-19 em Tóquio e no Japão, em vez de direcionar tanto poder humano para apresentar este show superficial”, acrescentou.