A sensação é parecida para muitas pessoas: falta disposição para atividades corriqueiras, possibilidade de mal-estar em caso de muita exposição ao livre, ambientes com ar-condicionado se tornam rotas de fuga. Temperaturas que circundam os 35 graus como ocorridas nesta semana, em Porto Alegre e boa parte da região metropolitana, se tornaram parte do cotidiano do gaúcho nos meses de janeiro. O interior do Estado também sofre e a Defesa Civil já contabiliza cerca de 150 decretos de emergência emitidos, ou seja, 30% dos 497 municípios gaúchos estão em emergência por conta da estiagem. A escassez de chuva que acompanha o calor intenso resulta até mesmo em desabastecimento de água. O clima obriga a população do RS a tomar medidas para amenizar o impacto dos dias tórridos.
Um termo conhecido entre os gaúchos é o de se sentir “ajojado” (um dos sentidos da popular expressão é o mal-estar) ao passar por um período de abafamento do clima. Pode ser queda de pressão, segundo o cardiologista do Hospital Mãe de Deus, Cícero Baldin. A exposição ao calor, mesmo que rápida, entre 30 e 50 minutos, pode causar uma vasodilatação, o alargamento dos vasos sanguíneos. Com isso, o sangue tem mais dificuldade de circular normalmente, levando a queda da pressão exercida por ele nas nossas veias e artérias. A desidratação também pode colaborar com essa redução, além de concentrar o sangue, fato que aumenta as chances de problemas cardíacos.
Os sintomas mais comuns dessa diminuição são tontura, vista embaçada, instabilidade e, eventualmente, desmaios. Caso comece a senti-los, a orientação é buscar ambientes refrigerados, se possível, se deitar e levantar as pernas. O uso do sal, apesar de popularmente citado, não é eficiente para a melhora do caso. “Quando uma pessoa está passando mal, ela já está em uma situação em que até o sal fazer efeito e ajudar a expandir o volume circulatório ainda vai levar um tempo. Não vai resolver. Em caso de pressão baixa, se não estamos em um ambiente com atendimento médico, o ideal é deitar e levantar as pernas. É uma solução temporária. Se estiver desidratado e em um ambiente hospitalar, receberá soro”, explica Baldin.
Para evitar essa situação, o indicado é se manter hidratado. Durante o verão, é recomendado um aumento de 50% no consumo de água em relação ao inverno. Além disso, utilize roupas leves e evite a exposição excessiva ao calor. Com os idosos, a atenção deve ser redobrada. O cardiologista salienta que, na maior parte das vezes, a pressão baixa não traz consequências mais graves, sendo, inclusive, um sinal positivo. “Caso ela seja um sinal de algum problema, como alguma infecção, hemorragia ou distúrbio na tireoide, é claro que você precisa de cuidados. No entanto, se você não possui nenhuma dessas questões, terá uma longevidade maior do que quem tem pressão alta”, complementa.
Muitos sentem dores de cabeça nestas situações e a desidratação é um desses motivos. Além disso, segundo o neurologista do Hospital Mãe de Deus, Luiz Marrone, além disso, em épocas de temperaturas mais quentes, não é incomum as pessoas terem mudanças em seus hábitos alimentares, dando lugar às comidas mais gordurosas, por exemplo. E, muitas vezes, por conta das férias de verão, há um aumento considerável no consumo de bebidas alcoólicas, o que também é um grande estímulo para o surgimento desse problema. “Lembrando que, em dias mais quentes, é interessante tentar uma dieta mais leve”, comenta.
Nesta época, também é comum que o aumento na carga de exercícios, principalmente para as pessoas que não estão acostumadas a praticar atividades físicas, seja um gatilho para a dor. Durante dias de altas temperaturas, o neurologista recomenda evitar a ingestão de alimentos considerados pesados, como chocolate, queijos, bebidas alcoólicas, embutidos, cafeína e alimentos com muitos conservantes. Em contrapartida, frutas, saladas, grãos e sementes, água de coco, grãos integrais e carnes magras são indicadas para dias de temperaturas mais quentes.
O médico orienta que, no caso das dores mais intensas de cabeça, com mudanças no padrão ou frequência que se costuma ter, é necessário consultar um profissional para fazer a investigação do quadro.
Evite exposição das crianças ao sol
Muita gente não sabe, mas o protetor solar deve ser usado não só ao ar livre. Dentro de casa também. A médica dermatologista do Hospital Moinhos de Vento, Fabiane Kumagai Lorenzini, destaca que o recurso protege contra os raios ultravioleta, que promovem manchas, envelhecimento da pele e, de maneira cumulativa, atua no desenvolvimento dos cânceres da pele. “Dentro de casa, temos raios do tipo A, que passam o vidro. O ultravioleta do tipo B passa quando as janelas estão abertas. A luz visível também pode causar manchas na pele, então os filtros solares são importantes mesmo ficando em casa”, explica.
Fabiane lembra a diferença entre o protetor solar físico e químico. Segundo ela, o físico ou inorgânico é composto por substâncias minerais (como por exemplo o óxido de zinco e o dióxido de titânio), que formam uma barreira que reflete os raios ultravioleta. “É indicado para aqueles que têm pele sensível ou alérgicos, pacientes que estão em tratamento que sensibiliza a pele (como, por exemplo, após alguns tipos de lasers ou peelings), crianças e gestantes também se beneficiam com o uso deste tipo de filtro”, esclarece. Já o filtro solar químico é composto por moléculas que absorvem os raios ultravioleta. “São os que encontramos com maior frequência nas farmácias”, exemplifica.
Entre as pessoas com os tipos de pele mais suscetíveis ao impacto do calor estão as crianças. O médico pediatra do Hospital Moinhos de Vento, Daniel Barbosa, frisa que não é recomendável que as crianças se exponham na praia com menos de um ano de idade. “Podem sair ao ar livre em outros locais mas, de preferência, em horários com menos incidência de sol e proteção solar com, no mínimo, fator 50, sempre evitando os protetores com perfume ou corantes”, aconselha Barbosa, acrescentando que é preciso que o produto seja aplicado a cada duas horas. Roupas com proteção aos raios também são indicados pelo médico.
Além dos efeitos na pele propriamente ditos, os pequenos também enfrentam o estranhamento do clima mais quente, como lembra a pediatra da clínica Recanto Canguru, Antonia Chagas. “A gente percebe uma irritabilidade, é bom observar se não há alteração no sono, os menores ficam mais sonolentos. Alguns deixam de mamar porque estão mais sonolentos devido ao calor”, ressalta. A especialista também acrescenta a hidratação como um movimento essencial às crianças que, sofrem as chamadas perdas insensíveis, líquidos eliminados pelo corpo por vias de difícil mensuração. “Precisam repor o suor e, ainda, quadros de diarreia e vômito, muito comuns nessa época”, diz Antonia, que atenta para pais e mães que colocam roupas excessivas em bebês que ainda não podem se comunicar e dizer que estão com calor.
Pets também sentem calor
Os animais também se incomodam com temperaturas mais altas que, podem, inclusive, trazer riscos à sua saúde. Para identificar um cachorro com calor basta observar sua linguagem corporal, como respiração muito ofegante, falta de apetite, vômitos e diarreias, apatia/prostração, salivação e sede excessivas. De acordo com o médico-veterinário, Daniel Svevo, hidratar o pet, assim como dispor de alimentação fresca são bons caminhos para que o verão não traga sofrimento ao bichinho. “Pode até dar gelo para cachorros no calor. Inclusive, funciona como um grande entretenimento. Além disso, é possível dar cubos de gelo aos cachorros, ou até mesmo congelar frutas, desde que sejam as permitidas, e dar para ele se entreter comendo e destruindo”, relata.
Pets com excesso de pêlo possuem maiores dificuldades no calor, então a indicação é manter o banho e tosa em dia. “Prefira a ajuda de um profissional especialista para confirmar todas as necessidades do seu animal durante as épocas mais quentes”, reforça o veterinário. Outro cuidado é o passeio de carro. A temperatura dentro de um veículo pode subir até cinco graus em 15 minutos, mesmo com as janelas abertas. Por isso, segundo Svevo, nem mesmo no calor, frio ou em qualquer outra ocasião, o pet nunca deve ficar sozinho dentro do carro.
Fonte: Correio do Povo