Dinossauros fascinam crianças; saiba como isso pode ajudar seu desenvolvimento
01/10/2021 09:17 em Educação

James Kirkland ganhou seu primeiro brinquedo de dinossauro quando tinha 5 anos em 1959. Ele se lembra dele como se fosse ontem.

Mal sabia, então, que seu amor pelos dinossauros o levaria a uma carreira como paleontólogo. Desde o dia em que seu pai trouxe para casa um presente especial para – um conjunto de dinossauros de brinquedo – após uma viagem de negócios, Kirkland passou quase 50 anos viajando pelo mundo desenterrando fósseis.

“Cada vez que encontro algo novo, é tão empolgante quanto da primeira vez”, disse ele, que é paleontólogo estadual na Utah Geological Survey.

Muitas crianças desenvolvem amor pelos dinossauros desde cedo, mas na maioria das vezes, elas não se tornam paleontólogos de renome mundial.

O mais comum é essa admiração diminuir, explica o Arthur Lavin, presidente do comitê sobre Aspectos Psicossociais da Saúde da Criança e da Família na Academia Americana de Pediatria (AAP).

Criando o ‘eu’ por meio dos dinossauros

Crianças de 3 a 4 anos passam por um período de hiperfixação, que Lavin chamou de “brincadeira baseada na imaginação”, em que se tornam profundamente interessadas em assuntos como fadas, monstros ou, em alguns casos, dinossauros.

Quando os bebês nascem, eles não sabem que existem durante os primeiros três meses, disse o especialista. Durante o primeiro ano, não há um senso claramente definido de “eu”, observou Lavin.

Entre 18 meses e 3 anos, as crianças começam a desenvolver seu senso de identidade, mas ainda estão confusas sobre o mundo ao seu redor, completou.

“É por isso que chamamos [esse período] de ‘terríveis 2 anos’, porque eles sabem que as coisas não são do jeito que querem, mas não têm certeza de como querem (ou como fazer do jeito que querem)”, disse Lavin.

Aos 3 anos, eles começam a dominar a sensação de que estão no mundo e querem experimentar ideias, explicou.

As crianças, então, embarcam nessa jornada de criar essa coisa chamada “eu”, e uma das maneiras de fazer isso é inventar coisas no mundo que criaram.

James Kirkland, paleontólogo estadual na Utah Geological Survey, é apaixonado por dinossauros desde os 5 anos
James Kirkland, paleontólogo estadual na Utah Geological Survey, é apaixonado por dinossauros desde os 5 anos / Acervo Pessoal

Dinossauros se encaixam em brincadeiras imaginárias

Os dinossauros se encaixam em seu mundo de faz de conta porque não há nenhum vivo hoje, então eles são como unicórnios e fadas.

“Se você vai ter um mundo de faz de conta, que se encaixa neste sentido muito poderoso de desenvolver um senso de identidade, os dinossauros realmente se encaixam”, disse Lavin.

Algumas crianças com grande interesse nos animais extintos podem recitar nomes complicados de dinossauros e fatos de memória – o que era um passatempo para Kirkland, por exemplo.

“Eu estava descendo a rua e um vizinho que estava fazendo um churrasco me chamava e dizia: ‘Você tem que perguntar a Jamie sobre dinossauros'”, relembrou.

Aprender palavras avançadas aos 3 ou 4 anos de idade faz parte do processo de desenvolvimento natural, afirmou Eli Lebowitz, professor associado do Centro de Estudo sobre as Crianças na Escola de Medicina de Yale, em New Haven, Connecticut.

 

Embora possa ser um desafio para os adultos lembrar os nomes de uma dúzia de espécies diferentes de dinossauros, é mais fácil para as crianças porque estão desenvolvendo habilidades de linguagem e aprendendo novas palavras todos os dias, disse ele.

O poder das brincadeiras

Brincar também é extremamente benéfico para o desenvolvimento da criança e deve ser incentivado pelos adultos, de acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP).

As crianças que participam de brincadeiras percebem melhorias em uma variedade de áreas, incluindo linguagem, desenvolvimento social e habilidades matemáticas iniciais.

Os adultos também se beneficiam quando brincam com seus filhos, de acordo com a pesquisa da AAP.

Quando os adultos se envolvem nessas atividades, podem ver o mundo através dos olhos de uma criança e, portanto, comunicar-se de forma mais eficaz. Os pais também podem sentir menos estresse em seu relacionamento com os filhos, descobriu a pesquisa.

Se os pais têm um filho que ama dinossauros, Lebowitz recomendou que adotem o interesse. Visite um museu de dinossauros, leia livros sobre dinossauros ou explore um parque próximo em busca de fósseis.

“Aproveite o interesse da criança como uma plataforma de lançamento para muitos tipos diferentes de experiências e aprendizado, até mesmo em assuntos adicionais”, disse o especialista.

Quando chega a vez da realidade

A maioria das crianças perde o interesse pelos dinossauros e seu mundo imaginário por volta dos 5 ou 6 anos, disse Lavin.

A atração fantasiosa dos dinossauros desaparece e as crianças voltam sua atenção para projetar uma realidade que desejam usando as habilidades que aprenderam ao criar uma realidade fictícia, disse ele.

A expansão dos círculos sociais também pode contribuir para um declínio no interesse, completou Lebowitz.

Aos 3 e 4 anos, as crianças cuidam de si mesmas e de seus familiares, mas à medida que crescem, passam a se interessar pelos outros e por como se relacionar com eles.

“Embora seus pais possam estar pacientemente dispostos a falar sobre dinossauros ad nauseum, é muito provável que outras pessoas não estejam”, afirmou Lebowitz.

A magia dos dinossauros desaparece para muitos, mas não para todos, disse Lavin.

“Algumas crianças gostam daquele mundo de faz de conta dos dinossauros e nunca desistem”, disse ele.

Isso pode levar a pesquisas sobre como os dinossauros adoecem (assim como nós)se reproduzem (não exatamente como nós) e voam (definitivamente não como nós). À medida que Kirkland se tornava adulto, seu amor pelos dinossauros só ficava mais forte.

Atualmente, ele promove o turismo de dinossauros em Utah, ajuda a regulamentar as escavações de fósseis e trabalha com outros países na identificação de ossos de dinossauros.

“Compreender a história do nosso planeta vale muito a pena, mas fazer com que as crianças se interessem pela ciência não tem preço”, disse Kirkland.

 

Fonte: CNN Brasil

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