Um estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que 65,5% dos brasileiros dormem mal. O trabalho, publicado na Sleep Epidemiology - que reúne artigos de pesquisa científica - ouviu 2.635 pessoas de todo o Brasil e mostrou, ainda, que as mulheres são as mais afetadas por problemas relacionados à qualidade do sono.
Um terço das mulheres têm problemas com o sono
Segundo a médica Helena Hachul, que é livre-docente e chefe do setor do Sono na Mulher da Unifesp e pesquisadora do Instituto do Sono, isso ocorre porque o público feminino é impactado por fatores socioambientais e hormonais. A especialista esclarece que no período reprodutivo, há oscilações hormonais do ciclo menstrual que podem impactar no sono.
Durante a TPM (Tensão Pré-Menstrual), por exemplo, elas podem apresentar insônia ou sono fragmentado. Já mulheres que têm ciclo menstrual irregular, ou até ovários policísticos, também apresentam mais dificuldade para dormir, problema esse que comumente aparece ainda na gestação - em que podem ocorrer alterações no sono decorrentes das modificações provocadas pelas gravidez.
“Por fim, na transição menopáusica e pós-menopausa, a mulher pode ter mais insônia - em torno de 60% das mulheres - , por conta da perda dos hormônios femininos. Paralelamente, a mulher está mais engajada no trabalho, e ao acumular funções, dupla ou até tripla jornada, também pode ter mais dificuldade para dormir”, explica a médica.
Pandemia e outros fatores também influenciam o sono
O estudo das universidades paulistas apontou ainda quais são os fatores considerados pelos participantes como responsáveis pela má qualidade do sono. Foram citadas, por exemplo, questões como insônia e o uso excessivo de aparelhos eletrônicos antes de dormir. Além disso, existem ainda os chamados transtornos do sono, que também atrapalham o descanso, como a apneia e a síndrome das pernas inquietas.
Outras causas estão ligadas ao ambiente em que a pessoa dorme, como a questão do barulho e o próprio colchão escolhido, ou ainda, às suas emoções. Quadros de depressão e ansiedade são outros fatores que influenciam o sono. A pandemia também foi um dos problemas mencionados pelo estudo. De acordo com Helena, o período impactou negativamente as noites dos brasileiros.
“A ansiedade, o estresse, o medo e até a perda de entes queridos motivou mais queixas de sono. Além disso, ficar em casa levou a perda de rotina. Isso prejudicou muito”, comenta a médica.
Dicas para dormir melhor
Caso um quadro de distúrbio do sono seja identificado, o indivíduo deve procurar orientação médica, para receber o tratamento adequado, que pode envolver o uso de medicamentos, por exemplo. Além disso, criar uma rotina de higiene do sono também é uma outra alternativa para tentar dormir melhor. A médica Helena Hachul separou algumas dicas de o que fazer ou não antes de deitar. Veja abaixo:
- Faça a última refeição até as 20h e prefira pratos leves e de fácil digestão;
- Evite alimentos ricos em xantinas, como chás pretos, café e refrigerantes à base de cola - pois são estimulantes;
- Evite atividade física depois das 18h;
- Reduza a luz ambiente, pois isso ajuda o cérebro a liberar a melatonina, o hormônio do sono;
- Faça atividades agradáveis, como ouvir música e ler, mas fora do quarto de dormir;
- Se possível, tire um cochilo, mesmo que curto, durante o dia - 20 minutos já ajudam bastante;
- Estabeleça uma rotina e procure dormir sempre no mesmo horário para que o organismo se acostume;
- Restrinja o tempo na cama e evite ficar na cama “esperando o sono chegar”. Só se deite quando for dormir;
- Tire o relógio do quarto.
“Isto gera ansiedade, pois a cada vez que a pessoa olha para ele, vê quanto não dormiu e fica ainda mais preocupada”, alerta a especialista.
Fonte: Correio do Povo