Tristeza, desmotivação, falta de esperança, cansaço e falta de vontade de levantar da cama. Estes e outros sentimentos negativos fazem parte da vida.
No entanto, quando o problema se agrava e passa a interferir na rotina e na capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer e até mesmo se divertir surge um sinal de alerta.
Os transtornos que afetam a saúde mental, como a depressão e ansiedade, podem se apresentar em diversas nuances. Por vezes, as doenças são confundidas com falta de vontade, preguiça ou desleixo, o que torna o diagnóstico mais complexo.
Nesta quinta-feira (15), Dia Nacional de Prevenção e Combate à Depressão, conheça os sinais mais comuns da doença e saiba como buscar ajuda especializada.
O que é a depressão
A depressão é um transtorno comum e sério que interfere na vida diária das pessoas afetadas. As causas são multifatoriais, incluindo questões genéticas, biológicas, ambientais, psicológicas e sociais. Pesquisas científicas apontam que o risco de depressão resulta da influência de vários genes que atuam em conjunto com fatores ambientais ou outros.
No entanto, a depressão também pode ocorrer em pessoas sem histórico familiar do transtorno. Nem todos os pacientes com transtornos depressivos apresentam os mesmos sintomas. Além disso, a gravidade, frequência e duração variam dependendo do indivíduo e de sua condição específica, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Aproximadamente 280 milhões de pessoas no mundo têm depressão, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Estima-se que 3,8% da população do planeta seja afetada, incluindo 5% de adultos e 5,7% de indivíduos com mais de 60 anos. A depressão é considerada a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma importante para a carga global de doenças.
Para a psiquiatra Maria Francisca Mauro, o inicio da depressão pode acontecer de diferentes formas e por isso é preciso ficar atento aos sintomas.
“Os primeiros sinais podem se manifestar em diferentes aspectos da vida. O importante é observar se, mesmo passando por um momento de maior pressão, você não consiga voltar ao seu estágio de normalidade dentro de 15 dias. A forma como se sente, os pensamentos que tem, sua relação com a vida em termos de prazer ou mesmo alterações do sono e do próprio corpo, como o peso, podem ser sinais de que algo não está bem”, alerta Francisca.
Principais sinais da depressão
Diferentemente das flutuações de humor habituais e das respostas emocionais de curta duração comuns, a depressão provoca quadros clínicos acentuados e impacta de maneira significativa a qualidade de vida. Principalmente quando recorrente e de intensidade moderada ou grave, a depressão pode trazer sofrimento e prejudicar a rotina de trabalho, escola e familiar.
Nos quadros mais severos, a depressão pode levar ao suicídio. Todos os anos mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida no mundo, segundo estimativas da OMS. O problema de saúde pública afeta famílias, comunidades e países inteiros e tem efeitos duradouros para as pessoas. O suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo.
Durante um episódio depressivo, a pessoa vivencia o humor deprimido, caracterizado por tristeza, irritação e sensação de vazio. Há perda de prazer e interesse em atividades, na maior parte do dia, quase diariamente, por pelo menos duas semanas. Vários outros sintomas também estão presentes, e podem incluir falta de concentração, sentimentos de culpa excessiva ou baixa autoestima, desesperança em relação ao futuro, pensamentos sobre morte ou suicídio, distúrbios do sono, alterações no apetite ou no peso e sensação de cansaço ou falta de energia.
“O negativismo pode chegar a uma dimensão de achar que a vida não vale mais a pena, como se não houvesse mais alternativas e isto culminar para além de pensamentos vagos sobre a morte, podendo se tornar uma ideia fixa, até o extremo de uma tentativa de suicídio”, diz a psiquiatra.
No humor depressivo, há um pensamento de que se perdeu, de forma irreversível, a capacidade de sentir prazer ou alegria. Algumas pessoas podem se mostrar mais apáticas do que tristes, e se percebendo como um peso para os familiares e amigos. Além de reforçar avaliações negativas sobre si mesmos, pessoas em depressão também percebem as dificuldades como intransponíveis. Em casos mais graves, surgem pensamentos suicidas que podem variar de uma pessoa para outra.
Impactos para a qualidade de vida
A especialista em Desenvolvimento Humano e Organizacional da Humanare Adriana Schneider destaca que os impactos para a saúde mental podem prejudicar o rendimento no trabalho.
“No caso do ambiente de trabalho, a questão se torna ainda mais essencial, quando doenças e transtornos diretamente ligados ao estresse no trabalho estão cada vez mais comuns, como síndrome de Burnout e depressão. Cabe aos líderes das empresas identificar o que pode estar causando uma eventual queda de rendimento de seus colaboradores, seja um regime de trabalho mais desgastante, seja a própria postura do líder para com seus liderados no dia a dia do ambiente de trabalho”, diz.
A síndrome de Burnout passou a ser reconhecida como um fenômeno relacionado ao trabalho pela OMS neste ano.
“O cérebro humano só se dedica a uma atividade por vez, colocando as demais funções em automático. Por isso, é preciso estabelecer pausas, tanto na rotina pessoal quanto na profissional. Ao longo do dia, faça uma pequena pausa”, explica a neurologista e diretora médica da Viatris, Elizabeth Bilevicius.
Carine Roos, CEO e fundadora da Newa, argumenta que os ambientes corporativos devem reforçar a atenção com a saúde mental de jovens colaboradores e estagiários.
“É imprescindível que a gestão crie uma rotina de diálogos cada vez mais próxima e presente com os jovens, para que haja apoio em suas necessidades nesse processo de aprendizado. A saúde emocional deve deixar de ser um tabu e abrir espaço para falas. Desta forma, as lideranças irão desenvolver um olhar de compaixão e empatia com o colaborador. Penso que o foco está na gestão da organização, em como a gestão está olhando para os colaboradores de uma maneira geral, incluindo os estagiários e aprendizes”, afirma.
Quadros clínicos variam
Diante da particularidade da mente humana, as manifestações de transtornos mentais se apresentam de diferentes maneiras entre os indivíduos.
Pessoas em depressão podem sentir cansaço excessivo mesmo sem ter realizado esforços físicos intensos. A falta de vontade e de iniciativa também está associada a um retardo motor e à um processo mais lento do pensamento. São comuns queixas como falta de memória e de concentração em atividades cotidianas.
Os distúrbios do sono também podem indicar problemas na saúde mental, como a insônia durante a noite ou sonolência intensa durante o dia. O aumento ou perda de peso também afetam pessoas deprimidas. Enquanto o apetite tende a diminuir, em geral, algumas pessoas podem ter um aumento da fome, associada principalmente ao consumo de carboidratos e doces.
Episódios depressivos também podem ser marcados por dores e sintomas físicos, como mal-estar, cansaço, incômodo digestivo, dor no peito, taquicardia e aumento do suor.
A psiquiatra Maria Francisca Mauro afirma que alguns indícios podem ajudar a identificar quando alguém conhecido sofre de depressão.
“Pessoas que passam a se isolar, que sempre estão reclamando, cancelam compromissos em cima da hora, sempre estão arrumando desculpas sociais e param de responder mensagem ou de ter contatos externos, além de modificar seus comportamentos. Quem mora na mesma casa pode perceber que aquela pessoa está com dificuldade de seguir prazos, por exemplo. Um ponto importante são as mudanças abruptas de comportamento, um negativismo, pessimismo, certo isolamento, uma reclamação quanto às dificuldades para fazer coisas que antes fazia e se sentia bem. São sutilezas de mudanças que precisam ser reparadas quando estamos perante pessoas que amamos”, explica.
Tratamento e onde buscar ajuda
O tratamento da depressão envolve um esforço multiprofissional, que pode contar com o auxílio de psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e médicos de família. Como qualquer doença, a conduta depende dos sintomas e da gravidade do quadro clínico de cada paciente e deve ser definida por profissionais de saúde especializados.
A psicoterapia, o uso de medicamentos antidepressivos e o acompanhamento profissional para a realização de mudanças no estilo de vida são algumas das possibilidades de tratamento.
A Opas afirma que os tratamentos psicossociais também são efetivos para depressão leve. Já os antidepressivos podem ser eficazes no caso de depressão moderada a grave, mas não são a primeira linha de tratamento para os casos mais brandos.
Para as pessoas que estão em crise, o Centro de Valorização da Vida (CVV) disponibiliza a ajuda de especialistas durante 24 horas. Basta ligar para o telefone 188 ou acessar o chat pelo site. O site Mapa da Saúde Mental permite a consulta de locais que oferecem o atendimento gratuito, voluntário ou com preços acessíveis no país.
A OMS alerta que embora existam tratamentos conhecidos e eficazes para transtornos mentais, mais de 75% das pessoas em países de baixa e média renda não recebem tratamento. Segundo a OMS, as barreiras incluem a falta de recursos e de profissionais de saúde treinados e o estigma social associado aos transtornos mentais. Em países de todos os níveis de renda, as pessoas que sofrem de depressão muitas vezes não são diagnosticadas corretamente.
Algumas atitudes podem fazer a diferença e contribuir para a saúde mental, como reduzir o tempo de uso da internet, estabelecer horários, evitar o excesso de bebidas alcoólicas e a busca por uma alimentação equilibrada.
“A autocobrança para dar conta de tantos papéis, principalmente para as mulheres, – profissional, mãe, parceira, amiga – no dia a dia pode ser um gatilho para a depressão. É essencial reduzir o tempo de acesso às redes sociais, principalmente no período da noite. No caso da depressão, a condição pode apresentar muito sono, mas tem o outro lado, que é a insônia”, afirma Marta Axthelm, presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata).
Fonte: CNN Brasil