Bola de fogo transformou quilômetros do deserto mais seco do mundo em vidro
05/11/2021 10:44 em Tecnologia

O Deserto de Atacama, no Chile, tem sido usado para simular e estudar a vida em ambientes fora do planeta Terra, como em Marte. Agora, um estudo recente revelou que pesquisadores acreditam que o deserto foi o local de uma antiga explosão de cometa, intensa o suficiente para criar placas gigantes de vidro de silicato.

A pesquisa foi publicada terça-feira (2) na revista “Geology”.

 

Cerca de 12 mil anos atrás, o calor intenso transformou o solo arenoso do Atacama em vastas áreas de vidro que se estendem por 75 quilômetros. Até agora, os cientistas não tinham certeza do que havia causado essa mudança drástica.

O Deserto do Atacama é a região desértica mais seca da Terra, com baixíssima umidade ou precipitação. O vidro fragmentado do deserto contém minúsculas partículas minerais que costumam ser encontradas em meteoritos que pousam na Terra.

Os minerais presentes no vidro combinaram com partículas coletadas pela missão Stardust da NASA, que as retirou de um cometa conhecido como Wild 2. Os pesquisadores estão confiantes de que os minerais do deserto chileno são o que sobrou depois que um cometa semelhante ao Wild 2 explodiu sobre a areia e a derreteu.

“É a primeira vez que temos evidências claras de vidros na Terra que foram criados pela radiação térmica e ventos de uma bola de fogo explodindo logo acima da superfície”, relatou Pete Schultz, autor do estudo e professor emérito de ciências geológicas na Universidade Brown e professor pesquisador do departamento de ciências terrestres, ambientais e planetárias da Brown. “Para ter um efeito tão dramático em uma área tão grande, esta foi uma explosão verdadeiramente imensa. Muitos de nós já vimos bolas de fogo de bólido (meteoro brilhante) riscando o céu, mas elas são pequenas manchas em comparação com isso”.

Os surpreendentes campos de vidro, em verde escuro ou preto, se estendem por uma área a leste do planalto Pampa del Tamarugal, localizado entre a Cordilheira dos Andes e a Cordilheira da Costa do Pacífico Sul. Embora a atividade vulcânica possa criar esse tipo de vidro, não há evidências que comprovem que o vidro do Atacama tenha sido formado por vulcões.

No passado, pesquisadores sugeriram que os incêndios antigos eram a causa. A área já hospedou terras úmidas com gramíneas derivadas de rios. Se aquela mata antiga tivesse se queimado em incêndios florestais generalizados, isso poderia provar que o fogo havia criado o vidro.

No entanto, o vidro em si é mais complexo do que aquele gerado por incêndios comuns. De perto, parece que os pedaços de vidro foram torcidos, dobrados, enrolados e atirados enquanto ainda estavam derretidos. Para os pesquisadores, isso só seria possível com uma explosão de ar que pode liberar ventos tão fortes quanto os de tornados.

Uma análise química do vidro revelou zircões, minerais que se decompõem termicamente para formar cristais de badeleita. Essa mudança só pode acontecer quando a temperatura atinge um pico acima de 1,6 mil graus Celsius, o que definitivamente excederia o calor gerado por incêndios em grama.

A análise também mostrou minerais como cubanita e troilita, ambos encontrados no cometa Wild 2 e meteoritos.

“Esses minerais nos dizem que este objeto tem todas as marcas de um cometa”, disse Scott Harris, coautor do estudo e geólogo planetário do Fernbank Science Center, na Geórgia, em um comunicado. “Ter a mesma mineralogia que vimos nas amostras de poeira estelar contidas nesses vidros é uma evidência realmente poderosa de que o que estamos vendo é o resultado de uma explosão de ar cometária”.

Os pesquisadores querem datar o vidro para determinar sua idade exata, bem como o tamanho potencial do cometa, mas sua expectativa atual de que o impacto ocorreu há 12 mil anos está alinhada com a época em que os grandes mamíferos desapareceram da área.

“É muito cedo para dizer se houve uma conexão causal ou não, mas o que podemos dizer é que esse evento aconteceu na mesma época em que, acredita-se, a megafauna desapareceu, o que é intrigante”, apontou Schultz. “Também existe a chance de que isso tenha sido testemunhado pelos primeiros habitantes, que haviam acabado de chegar à região. Deve ter sido um tremendo espetáculo”.

Fonte: CNN Brasil

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