Boris pretende permanecer no cargo de premiê até o outono no Hemisfério Norte, para que os conservadores tenham tempo de eleger um novo líder para o suceder.
“Eu vou servir até que um novo líder assuma”, acrescentou.
O premiê disse que um cronograma deve ser detalhado na próxima semana, e o processo de escolha de um próximo líder começa agora.
Boris Johnson afirmou que irá dar apoio ao novo líder a ser decidido. “Ao público, sei que muitos estarão aliviados. Estou triste por estar entregando o melhor emprego no mundo”, disse.
“A razão de eu ter lutado tanto é porque eu senti que era meu dever. Estou imensamente orgulhoso de minhas conquistas”, acrescentou.
“Me arrependo por não ser bem sucedido em permanecer [no cargo]”, afirmou, em outro momento. Ele disse que “ninguém é indispensável na política”, até haver um novo primeiro-ministro, “o interesse público será servido”.
Boris Johnson ocupa o cargo de primeiro-ministro há três anos, tendo sido eleito em votações internas do Partido Conservador do Reino Unido em julho de 2019, substituindo Theresa May, que havia renunciado ao cargo.
As revelações sobre uma série de festas em Downing Street reuniram o escárnio popular com as críticas do líder de oposição do Partido Trabalhista Keir Starmer, que disse que Johnson não tinha autoridade moral para liderar o país.
Entretanto, a principal e mais recente causa da instabilidade é relacionada ao parlamentar Chris Pincher, demitido na última quinta-feira em meio a alegações de que Johnson o havia nomeado para seu governo mesmo sabendo de acusações de má conduta sexual.
Quando novos relatos sobre outros casos relacionados a Pincher, enquanto era ministro das Relações Exteriores, surgiram, foi negado que o premiê soubesse qualquer coisa a respeito da situação.
Porém, após dificuldades em fornecer explicações, a equipe de Johnson disse que ele tinha conhecimento das acusações, mas que haviam sido “resolvidas”.
Na manhã de terça-feira (5), Simon McDonald, ex-funcionário público do Ministério das Relações Exteriores, revelou que Johnson havia sido informado pessoalmente sobre o resultado de uma investigação sobre a conduta do ex-membro do governo, provocando uma onda de demissões ao longo do dia.
O primeiro-ministro reconheceu na terça-feira que “foi um erro” nomear Pincher para seu governo, mas o dano já havia sido feito.
Renúncias no governo
A situação se agravou ainda mais nesta quarta-feira (6), com a renúncia de uma série de colegas de alto escalão que disseram que ele não estava apto para governar.
Ao menos 54 membros do governo do Reino Unido pediram para sair. Dos 22 que compõem o gabinete do premiê, o núcleo chave do governo, dois já saíram.
Os ministros das Finanças e da Saúde de Johnson renunciaram na noite desta terça-feira (5) após o último escândalo atingir o governo, provocando a saída de membros do governo e a retirada do apoio de legisladores leais.
Confira aqui a lista de membros que renunciaram ao governo do Reino Unido nesta semana.
A crise desencadeada nesta semana aparentou a mais grave durante a gestão de Boris Johnson, mas não foi a primeira.
Prorrogação ilegal do Parlamento
Os críticos do governo muitas vezes acusaram o primeiro-ministro de desrespeitar o procedimento do governo e dobrar as regras quando lhe conviesse, como quando ele decidiu pedir à rainha que suspendesse ou fechasse o Parlamento por cinco semanas no auge de uma crise política sobre o Brexit.
A monarca acatou o pedido, de acordo com seu dever de ficar fora da política e agir apenas sob o conselho dos ministros de Estado.
Mas quando a Suprema Corte considerou que a prorrogação era ilegal, levantou a desconfortável questão de saber se a rainha havia infringido a lei. A decisão levou a acusações de que o governo de Johnson enganou deliberadamente a monarca como parte de sua estratégia para garantir o Brexit.
Johnson foi forçado a se desculpar pessoalmente, de acordo com o “Sunday Times”.
A prorrogação mal feita foi apenas um exemplo do desrespeito de Johnson pelas regras e padrões parlamentares. Ele apoiou a secretária do Interior, Priti Patel, depois que uma investigação sobre intimidação de funcionários descobriu que ela violou o Código Ministerial e não “tratou seus funcionários públicos com consideração e respeito”, com um “comportamento que pode ser descrito como intimidação”.
O conselheiro de ética de Johnson, Alex Allen, renunciou por causa do caso.
A reforma do apartamento
Um dos primeiros escândalos enfrentados por Johnson foi uma alegação de corrupção depois que mensagens do WhatsApp revelaram que ele havia pedido fundos a um doador do Partido Conservador para reformar sua residência em Downing Street. As agências de notícias britânicas informaram que o trabalho custou cerca de US$ 280 mil (aproximadamente R$ 1,5 milhão)
Doações e empréstimos políticos são rigidamente controladas no Reino Unido, com empréstimos de mais de US$ 10.400 (R$ 56 mil) registrados e revelados publicamente por uma comissão quatro vezes por ano.
Johnson não relatou as doações e, como resultado, o Partido Conservador foi multado em 17.800 libras (cerca de R$ 115 mil) pela Comissão Eleitoral em dezembro do ano passado.
Escândalo de lobby de Owen Paterson
No ano passado, Johnson tentou forçar os parlamentares conservadores a votar a favor da revogação da suspensão de um colega do partido do Parlamento.
Owen Paterson, um influente membro conservador e ex-ministro do gabinete, enfrentava uma suspensão de 30 dias depois de ser acusado de uma violação “grave” das regras de lobby.
Após uma reação negativa, Johnson deu meia-volta e Paterson acabou deixando o cargo.
Os liberais democratas conquistaram a cadeira de Paterson – uma que os conservadores ocuparam por quase 200 anos – na eleição subsequente em dezembro.
Boris Johnson
Boris Johnson, 58 anos, ocupou a liderança do Reino Unido desde 2019, após ser eleito de lavada em votações internas do Partido Conservador – o qual é presidente – em julho de 2019. Antes, Johnson foi ministro das Relações Exteriores e prefeito de Londres.
Político, escritor e jornalista, Johnson nasceu em Nova York, nos Estados Unidos, porque seu pai estudava economia na Columbia University.
Ainda jovem mudou-se para Bruxelas e Londres para estudar. Se formou em Estudos Clássicos no Balliol College, em Oxford, onde presidiu a Oxford Union.
Como jornalista, atuou em jornais como o The Times, Daily Telegraph e The Spectator.
A carreira política teve início nos anos 2000; em 2001 foi eleito para representar o distrito de Henley-on-Thames no Parlamento. Em 2004, foi eleito vice-presidente do Partido Conservador e em 2008 deu início ao cargo de prefeito de Londres, após vencer eleições apertadas em 2007. Foi reeleito prefeito de Londres em 2012.
Após deixar a prefeitura com bons índices de aprovação, em 2016, foi nomeado Secretário de Estado para Assuntos Externos e da Commonwealth
Em 23 de julho de 2019, Johnson foi anunciado como o novo líder do Partido Conservador e formalmente designado como primeiro-ministro.
Em seu primeiro discurso no cargo, em 24 de julho, afirmou que uma de suas prioridades era garantir a saída do Reino Unido da União Europeia.