O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quinta-feira (21) que elevou a principal taxa de juros da zona do euro em 0,5 ponto percentual, iniciando com isso um ciclo de alta para conter níveis recordes de inflação. Com isso, a taxa de depósito passa a ser de 0%, ante -0,5% anteriormente.
Em junho, a inflação da região, formada por 19 países, atingiu o maior valor da história, com um acumulado de 12 meses de 8,1%. Desse total, quase metade está ligada a preços recordes de energia.
O banco central havia sinalizado em junho que faria uma elevação de 0,25 p.p., mas muitos investidores defendiam que o BCE precisaria ser mais agressivo na elevação, defendendo um aumento de 0,5 p.p. Alguns dirigentes da autarquia, considerados mais linha dura, também defenderam o movimento.
O BCE busca equilibrar um esforço de combate à inflação via taxa de juros sem, entretanto, estabelecer níveis que desacelerariam excessivamente a economia, jogando a zona do euro em uma recessão.
As outras duas taxas da zona do euro, de refinanciamento e de empréstimo, também tiveram altas de 0,5 p.p., passando a valer, respectivamente, 0,5% e 0,75%.
Em comunicado após a decisão, o BCE afirmou que a medida busca “garantir o retorno da inflação à meta de 2% no médio prazo”, e que passou a ser apropriado adotar um movimento mais forte de alta do que o sinalizado anteriormente devido à conjuntura econômica.
Segundo a autarquia, a decisão foi baseada na avaliação atualizada de riscos inflacionários e no apoio “reforçado fornecido pelo instrumento de proteção para efetiva transmissão da política monetária”, se referindo a um instrumento que buscará reduzir os impactos negativos da alta para países mais vulneráveis do grupo.
Os dirigentes disseram ainda que a saída das taxas de juros do território negativo permitirá uma ‘transição para uma abordagem reunião a reunião sobre decisões de juros”.
O ciclo de alta de juros começa meses depois do de outras grandes economias, como os Estados Unidos e o Reino Unido, e após meses de resistência de diversos dirigentes da autarquia, incluindo a presidente do BCE, Christine Lagarde. O argumento contrário à alta era de que a inflação seria temporária e ligada a problemas de oferta, e que a alta nas taxas não resolveria o problema e acabaria desacelerando a economia da região.
Entretanto, o quadro foi piorado com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, com as sanções ocidentais e a reação russa limitando o fornecimento de gás natural. Com isso, os preços de energia dispararam na região. A expectativa de analistas é que a inflação na zona do euro suba ainda mais, com uma continuidade do conflito.
A demora em iniciar a alta de juros foi mal vista pelo mercado, o que contribuiu para uma desvalorização do euro. A moeda teve uma tendência de desvalorização, e atingiu uma paridade em relação ao dólar pela primeira vez em 20 anos, chegando inclusive a valer menos que a moeda norte-americana. Após a decisão, o euro acelerou uma alta na sessão.
Paula Magalhães, economista-chefe da AC Pastore Associados, afirma que a decisão de subir juros aumenta o risco de uma recessão global, o que acaba influenciando o dólar e levando a uma alta da moeda, o que se mistura com um quadro doméstico negativo e acaba prejudicando o Brasil.
“O Brasil tem duas forças puxando o dólar. De um lado, a taxa de juros mais alta mesmo com elevações nos Estados Unidos, mas o câmbio está depreciando em grande parte por conta de um risco fiscal que leva investidores a saírem do Brasil. Enquanto não resolver a questão fiscal, é difícil falar em apreciação do real”, diz Magalhães.
Fonte: CNN Brasil